Dados do Trabalho


Título

Bloqueio Atrioventricular de Segundo Grau Tipo Wenckebach em Ex-usuário de Cocaína: Um Relato de Caso

Contexto

Introdução: O abuso da droga ilícita cocaína é motivo de atendimentos em serviços de emergência pelos seus efeitos, principalmente, cardiotóxicos. A droga atua como simpaticomimética, podendo deflagrar as taquiarritmias, sendo as apresentações clínicas mais comuns. Os efeitos no sistema de condução podem ser simpatomiméticos e sino-bradicárdicos. Objetivo: Relato de caso de paciente com BAV de segundo grau Mobitz tipo I em ex-usuário de cocaína.

Descrição do(s) Caso(s) ou da Série de Casos

Relato de Caso: Paciente do sexo masculino, 34 anos, negro, dá entrada na emergência com procordialgia, em pontada, duração de cinco minutos, sem irradiação e sintomas associados. Antecedentes pessoais de HAS, obesidade, etilismo, ex-tabagismo e ex-usuário de cocaína há 10 anos (tempo de drogadição de 10 anos). Ao exame físico: bom estado geral, assintomático e bradicárdico. PA 130/80 mmHg e FC de 43bpm. ECG: ritmo sinusal bradicárdico conduzido com BAV de 2° grau tipo Wenckebach e FC de 46spm, alteração da repolarização (padrão plus-minus) em parede anterior. Troponinas de 0 e 3h respectivamente de 10 e 9 (referência até 14pg/ml). Cineangiocoronariografia: sem lesões obstrutivas e ECO transtorácico normal. Submetido ao Teste ergométrico para avaliação cronotrópica, protocolo de Ellestad: interrompido aos 06:28 minutos por dispneia limitante, FC máxima de 46,8%, resposta deprimida do nó sinusal e da condução AV frente ao esforço por provável doença binodal. Indicado implante de marcapasso definitivo.

Comentários

Discussão: A cocaína, por bloquear a retirada de norepinefrina dos terminais pré-sinápticos, pode aumentar a FC, pressão arterial e resistência vascular periférica. Estudos têm reportado o aumento da FC em usuários de cocaína, porém há estudos que reportam bradiarritmias, como BAV de primeiro grau, segundo grau Mobitz tipo I, tipo II e total. A alteração na condução AV ainda não é totalmente compreendida, porém a mais aceita seria por sua ação inibitória nos canais de sódio cardíacos (INa). A cocaína atua semelhantes aos antiarrítmicos de Classe I, inibindo os canais INa, o que pode explicar o BAV de segundo grau Mobitz tipo I apresentado neste caso. Conclusões: O uso crônico e prolongado da cocaína está relacionado a alterações de função ventricular, aterosclerose, arritmias e lesão simpática. Embora raro, existe a possibilidade de bradiarritmias irreversíveis associadas ao abuso desta droga com a necessidade de implante de marcapasso definitivo como apresentado neste caso.

Palavras Chave

Bloqueio atrioventricular de segundo grau; Fenômeno de Wenckebach; Cocaína

Área

CARDIOLOGIA

Autores

THAIS CARVALHO PAIM, Cezar Arruda de Oliveira Filho, Luciano Vaccari Grassi, Luiz Carlos Volpi Júnior