Dados do Trabalho


Título

HEPATITE AGUDA GRAVE E INSUFICIÊNCIA CARDÍACA EM USUÁRIO DE ESTEROIDES ANABOLIZANTES: RELATO DE CASO

Contexto

O uso abusivo de esteroides anabolizantes (EAs) é cada vez mais frequente entre praticantes de musculação, mesmo cientes de seus possíveis efeitos colaterais. Além da hepatotoxicidade, tais drogas podem causar danos graves, duradouros e até irreversíveis, nos sistemas cardiovascular, reprodutor, renal e transtornos psiquiátricos. Relatamos um caso de paciente usuário de EAs e efeitos adversos significativos.

Descrição do(s) Caso(s) ou da Série de Casos

Masculino, 32 anos, sem comorbidades, em uso de EAs para fins estéticos. Negava tabagismo, etilismo e outros vícios. Referia distensão abdominal há 20 dias, associada a náuseas, vômitos, dispneia aos moderados esforços e acolia fecal. Exames iniciais evidenciaram aumento de transaminases, hipoalbuminemia e alargamento de INR, sendo encaminhado ao serviço de referência. Admitido em bom estado geral, estável hemodinamicamente, ictérico, lúcido e orientado. Abdome doloroso à palpação profunda em hipocôndrio direito e fígado palpável a 5 cm do rebordo costal. Referia uso de enantato de testosterona e decanoato de nandrolona há 2 anos sem acompanhamento, com aumento de dose há 5 meses. Exames laboratoriais revelaram lesão e alteração de função hepática: TGO 1060 U/L, TGP 2779 U/L, FA 152 U/L, GGT 254 U/L, albumina 3,0 g/dL, BT 3,25 mg/dL, BD 2,25 mg/dL, BI 1,0 mg/dL, INR 2,08, TTPa 31,5s. Sorologias negativas para hepatites A, B e C, HIV, Epstein- Barr e CMV. Anticorpos antinucleares, anti-músculo liso, anti-LKM1 e anti-actina negativos. Ceruloplasmina e cinética do ferro normais. USG abdominal evidenciou fígado aumentado (LD de 18cm), contornos regulares e ecotextura finamente heterogênea. Veias hepática, vasos portais, vias biliares e baço sem alterações. Ecocardiograma com aumento de VE, moderada disfunção contrátil e FEVE de 32%. Diante das hipóteses de hepatite aguda grave e insuficiência cardíaca secundárias ao uso de EAs, foram iniciados metoprolol, enalapril, dapagliflozina, espironolactona e N-acetilcisteína, evoluindo com resolução dos sintomas e normalização dos exames laboratoriais. Atualmente em seguimento ambulatorial com hepatologia e cardiologia.

Comentários

O caso reflete o crescente aumento do uso de EAs por adultos jovens para fins estéticos, levando a danos hepáticos e cardiovasculares importantes e se tornando um problema preocupante a nível de saúde pública. Discute-se, ainda, a possibilidade do uso de N-acetilcisteína para a hepatotoxicidade não causada por paracetamol, já descrita em relatos de casos, mas carente de mais estudos.

Palavras Chave

Hepatite; Insuficiência cardíaca; Anabolizantes

Área

CLÍNICA MÉDICA

Autores

OTÁVIO LOTTI PAULINO, GUILHERME MARTINS TAHAN, PATRÍCIA MUNHOZ MARGONARI, LUCAS ITALO FERRARI SANTOS, LETÍCIA ESTEVES DANTE, VINICIUS VIOTTO BERTO, JEMIMA DOMINGOS LEMES